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Ananda Robles

Quando comecei a fazer poesia, eu era criança e daria tudo para ver, hoje em dia, um poema meu que foi publicado em um livro. Sim, fui publicada aos 12 anos, e depois de adulta, jamais tive acesso ao livro. Somente lembro que abaixo do poeminha estava escrito “Ananda Berini, 12 anos”... devo ter escrito coisas sérias, pq crianças sempre falam sério.


Começou eu era uma garotinha de 11 anos, e fui ter aulas de poesia com uma professora na escola (a aula era na hora da aula de álgebra, e aprender poesia, estranhamente, nos dava o poder mágico de dar o fora daquele lugar insano, onde misturavam-se números com letras) Então eu fui, muito feliz, quase uma fugitiva e comecei a tomar lições de como fazer um soneto. Mas eram lições matemáticas pq um soneto constitui-se ao colocar palavras certas para rimar nos lugares estratégicos. Aquilo me deixou decepcionada, pois eu sempre quis liberdade, mas a professora me trouxe de volta quando disse que a poetisa “tem licença para criar palavras” e me seduziu pra sempre, pois eu queria só escrever, com a caneta selvagem entre os dedos. 
Sempre tive um intenso apego emocional às minhas professoras de português pq elas me davam a ferramenta que eu precisaria pelo resto da vida: O poder de dominar a minha língua, tão rica, a língua que me apresentava códigos para eu conseguir mostrar o que eu sentia ao mundo. Pq pra mim, mostrar o que sinto é como respirar e eu preciso disso pra viver. Sabem aquela frase de Clarice que diz: “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome”? É mais ou menos por aí o meu desejo de expressão. Mas ele tmb é limitado por correntes invisíveis que nos prendem... E por falar em Clarice, ou melhor, parafraseando a Deusa, que dizia que “a palavra era o domínio dela sobre o mundo” digo mais, e digo que a palavra é um karma que se impõe sobre mim, sobre minha cabeça, me obrigando a expulsa-la de dentro de mim todos os dias.


E falando em Karma, pra concluir, cito Truman Capote:
“Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote”


Ah, e esse chicote.. ele me queima todos os dias...
🖤🌙

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